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quarta-feira, 6 de novembro de 2024

RAMIRO GOMES DE FREITAS

 

RAMIRO GOMES DE FREITAS

Nasci em Taipu-RN, interior do Estado, no dia 30 de dezembro de 1924 . Trabalhava na lavoura com meu pai. Naquele época chovia bastante mas a vida era muito sofrida. Nós nos matávamos de trabalhar na lavoura e quando estava próximo da colheita, as lagartas vinham e acabavam com tudo. Quando completei 12 anos de idade falei com meu pai e disse que ali não dava mais para continuar, naquele sofrimento e que eu precisava sair de casa. Meu irmão mais velho já havia saído. Então íui morar em Ceará Mirim onde trabalhava num bar do meu tio.

 Quando fui convocado para a guerra íui fazer exames de saúde em Natal, éramos uns 50 jovens, fomos para o hospital, onde é hoje a maternidade Januário Cicco, era um hospital militar. Se tivesse condições de saúde você iria para a guerra, se não tivesse não iria Eu fui selecionado.

Na viajem para a Itália você não podia tirar o colete salva-vidas pois se o navio fosse a pique você afundaria junto com ele. Quando nós passamos de Gibraltar, começou... era bomba, era o diabo, os alemães perseguindo a gente. O navio era o General Meigs, um navio americano com 800 metros de comprimento por 70 de profundidade, olha o tamanho do animal, não era brincadeira não, eram quase nove mil soldados lá dentro. Os soldados choravam demais, diziam: "tenente e se eu morrer?", o tenente dizia: "se você morrer sua família tá amparada rapaz!". Agente jogava dama, dominó, carta e graças a Deus eu nunca tive tristeza, "vou alegre e vou voltar alegre". Quando nos aproximamos de Nápoles, o comandante avisou: "Nó vamos chegar ao cais do porto de Nápoles." A temperatura era 15 graus abaixo de zero. Eu fui no quarto escalão. A temperatura abaixo de zero. E outra coisa, disse o comandante: "não dêem nada a ninguém", eram aqueles garotos todos maltrapilhos, e o frio era grande. Eles pediam chocolate e cigarros para os pais dele: "brasiliano dá cigarete para mi papa". Aí o soldado inglês, a Inglaterra antes tinha invadido Nápoles e o Mussolini havia botado aqueles garotos para jogar granadas nos tanques de guerra da Inglaterra, eles (os ingleses) tomaram uma raiva dos garotos tão grande que quando viam um garoto, metiam o chicote que o sangue descia. É por isso que o comandante falou para não soltarmos nada para esses garotos, nem cigarros, nem ponta de cigarros, pois se soltássemos esses garotos iriam sofrer. Depois nós chegamos no depósito para onde íamos, esse depósito era uma escola militar de Mussolini, escola de permanência alemã. Olha só aonde é que eu estava! Quando nós pensávamos que lá estava tudo bem, tudo gostoso começou o barulho. Tinha um túnel ali perto, que se não me engano tinha 6 quilômetros. O túnel era grande, ai nós descíamos de um lado para o outro numa escuridão danada, pois a luz era vermelha, não tinha luz branca não. Aí vamos esperar, quando começou aquela guerra aérea: Brasil, Estados Unidos e Alemanha. O prédio era tão bombardeado que viviam dependuradas as coisas, e ali agente vivia. O túnel era uma proteção aérea para quando eles viessem nos bombardear. E ali nós ficamos. Quando eles bombardeavam, não conseguiam atingir agente, eles bombardeavam o prédio, pois conheciam muito bem o prédio que já havia sido deles, dos alemães. Então eles não conseguiam bombardear o túnel. Um túnel daquele tamanho, o que tinha de força elétrica não é brincadeira não rapaz! E a nossa luz era aquela vermelhinha. Não podíamos tocar nos fios elétricos. Eu sei que quando eles foram embora, nós viemos voltar para o nosso alojamento já era quase duas horas da manhã. Eles (os aliados) derrubaram cinco aviões alemães e o inglês e o americano, graças a Deus, voltaram todos direitinhos. Ai os alemães não tentaram mais nada sobre nós ali em Nápoles. Nós ficamos ali e dali fomos distribuídos para o front, para Stáfolli, para Livorno, para Porreta... então nós fomos distribuídos para aquela região onde houve a guerra cerrada.

FONTE -  RANIELLI CAVALCANTE DE MACEDO

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