RAMIRO
GOMES DE FREITAS
Nasci em Taipu-RN, interior do Estado, no dia 30 de dezembro
de 1924 . Trabalhava na lavoura com meu pai. Naquele época chovia bastante mas
a vida era muito sofrida. Nós nos matávamos de trabalhar na lavoura e quando
estava próximo da colheita, as lagartas vinham e acabavam com tudo. Quando
completei 12 anos de idade falei com meu pai e disse que ali não dava mais para
continuar, naquele sofrimento e que eu precisava sair de casa. Meu irmão mais
velho já havia saído. Então íui morar em Ceará Mirim onde trabalhava num bar do
meu tio.
Na viajem para a Itália você não podia tirar o colete
salva-vidas pois se o navio fosse a pique você afundaria junto com ele. Quando
nós passamos de Gibraltar, começou... era bomba, era o diabo, os alemães
perseguindo a gente. O navio era o General Meigs, um navio americano com 800
metros de comprimento por 70 de profundidade, olha o tamanho do animal, não era
brincadeira não, eram quase nove mil soldados lá dentro. Os soldados choravam
demais, diziam: "tenente e se eu morrer?", o tenente dizia: "se
você morrer sua família tá amparada rapaz!". Agente jogava dama, dominó,
carta e graças a Deus eu nunca tive tristeza, "vou alegre e vou voltar
alegre". Quando nos aproximamos de Nápoles, o comandante avisou: "Nó
vamos chegar ao cais do porto de Nápoles." A temperatura era 15 graus
abaixo de zero. Eu fui no quarto escalão. A temperatura abaixo de zero. E outra
coisa, disse o comandante: "não dêem nada a ninguém", eram aqueles
garotos todos maltrapilhos, e o frio era grande. Eles pediam chocolate e
cigarros para os pais dele: "brasiliano dá cigarete para mi papa". Aí
o soldado inglês, a Inglaterra antes tinha invadido Nápoles e o Mussolini havia
botado aqueles garotos para jogar granadas nos tanques de guerra da Inglaterra,
eles (os ingleses) tomaram uma raiva dos garotos tão grande que quando viam um
garoto, metiam o chicote que o sangue descia. É por isso que o comandante falou
para não soltarmos nada para esses garotos, nem cigarros, nem ponta de
cigarros, pois se soltássemos esses garotos iriam sofrer. Depois nós chegamos
no depósito para onde íamos, esse depósito era uma escola militar de Mussolini,
escola de permanência alemã. Olha só aonde é que eu estava! Quando nós
pensávamos que lá estava tudo bem, tudo gostoso começou o barulho. Tinha um
túnel ali perto, que se não me engano tinha 6 quilômetros. O túnel era grande,
ai nós descíamos de um lado para o outro numa escuridão danada, pois a luz era
vermelha, não tinha luz branca não. Aí vamos esperar, quando começou aquela
guerra aérea: Brasil, Estados Unidos e Alemanha. O prédio era tão bombardeado
que viviam dependuradas as coisas, e ali agente vivia. O túnel era uma proteção
aérea para quando eles viessem nos bombardear. E ali nós ficamos. Quando eles
bombardeavam, não conseguiam atingir agente, eles bombardeavam o prédio, pois
conheciam muito bem o prédio que já havia sido deles, dos alemães. Então eles
não conseguiam bombardear o túnel. Um túnel daquele tamanho, o que tinha de
força elétrica não é brincadeira não rapaz! E a nossa luz era aquela
vermelhinha. Não podíamos tocar nos fios elétricos. Eu sei que quando eles
foram embora, nós viemos voltar para o nosso alojamento já era quase duas horas
da manhã. Eles (os aliados) derrubaram cinco aviões alemães e o inglês e o
americano, graças a Deus, voltaram todos direitinhos. Ai os alemães não
tentaram mais nada sobre nós ali em Nápoles. Nós ficamos ali e dali fomos
distribuídos para o front, para Stáfolli, para Livorno, para Porreta... então
nós fomos distribuídos para aquela região onde houve a guerra cerrada.
FONTE - RANIELLI CAVALCANTE DE MACEDO
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